Trabalho conceitual que estreia hoje e mergulha nas vivências de um jovem negro periférico e desafia a narrativa dominante com sons de rua, crítica social e espiritualidade
O novo disco de D$ Luqi não pede licença. “A Odisseia do Neguinho Violento e Vingativo”, que chega às plataformas hoje, 8 de agosto, é um soco lírico que mistura revolta, identidade e experimentação musical para contar uma história marcada por marginalização, violência policial, religião e raça, mas também por resistência e reconstrução.
Nascido da indignação, o projeto começou a ser desenvolvido no início de 2025, em meio ao que o artista chama de “desencanto com o que via na cena underground e na sociedade como um todo”. Esse incômodo ditou o tom do disco, que se apresenta como uma narrativa intensa e íntima, repleta de relatos pessoais transformados em versos diretos e contundentes.
“É uma chuva de relatos”, diz Luqi, que usa sua trajetória como matéria-prima para o álbum. Ex-professor de português, ele já era conhecido por sua lírica afiada, mas neste trabalho se aprofunda na proposta de uma “violência consciente”, uma forma de devolver ao mundo o que o mundo impôs, sem filtro, sem pedir desculpas.
Na sonoridade, o artista parte do hardtrap, território onde já se move com naturalidade, e se expande em novas direções: flerta com o drumless, injeta doses de funk e fecha com um toque acústico inesperado, provando que não está disposto a ficar em nenhuma zona de conforto. “Tenho me aventurado em coisas diferentes e gostado bastante”, revela.
Apesar de não citar referências musicais diretas, Luqi aponta que o álbum foi movido por sentimentos provocados por pessoas reais em sua vida e não por influências artísticas. A obra, segundo ele, representa exatamente aquilo que a sociedade costuma invisibilizar: o jovem negro, periférico, que resiste em existir e se expressar num país que insiste em apagá-lo.
“Neguinho Violento e Vingativo” não é um personagem fictício. É o reflexo de uma juventude que se vê empurrada para a margem, mas encontra na arte uma forma de gritar e de curar. “Acredito que muitos que viveram as situações que eu relato vão entender a mensagem”, afirma.
Produzido por Vidari & ohayomatsu, o disco chega com dez faixas que cruzam o pessoal e o político em camadas densas de crítica, ritmo e espiritualidade afro-brasileira.